O desejo de te entregar aos impulsos da alma, à arte,
num ato de realização pessoal, à total subjetividade
do ser, pulsa e permeia teus dias?
Porque apenas pagar as contas no fim do mês,
ver teus rendimentos se esvaírem nos corriqueiros gastos
e nas pequenas loucuras que te permites
enquanto consumidor não te torna completo
como ser humano.
És somente peças do sistema global massacrante.
Embora possas dizer que tens independência financeira
alcançada após muitos anos de estudo, conquistaste
um cargo no sistema burocrático, ou ainda que seja
numa das esferas do sistema capitalista
Há raras oportunidades para sentir-te vivo de verdade,
ligado aos seus semelhantes e querido
pelas qualidades impagáveis do ser.
As mesmas qualidades que não podes sempre expor
nesta sociedade onde “tudo que disseres pode e será
usado contra ti”, seja no tribunal ou inesperadamente
em qualquer situação.
Quanto tempo livre tens para estar com aqueles de quem
gostas, totalmente disponível e despreocupado
para desfrutar do simples prazer de viver,
unindo esforços para se melhorarem
como indivíduos e coletivamente.
Quantas prisões te abocanham simultaneamente,
incutindo-te medo e culpa, induzindo-te
à perda do precioso tempo.
Tempo que poderias dedicar à realização
dos teus mais íntimos sonhos, explorando
todo o teu potencial criativo.
Assim, vendem-te a ideia de um deus castrador,
fazem-te, muitas vezes, viver frustrado, seja
trancado em casa por medo da violência externa,
seja dentro de relações supostamente felizes e empregos
que te pagam sempre menos do que o necessário
para sustentar o nível social em que pensas te enquadrar.
Massas de manobras gigantescas se perpetuam ignorantes
de sua função nas mãos dos que fazem mas não cumprem as leis.
De outro lado, a insanidade rodeia os que pensam ter consciência
da realidade como se houvesse objetividade acima de tudo.
Se o apego demasiado é gerador de tanto sofrimento,
de uma maneira o desprendimento total da vida mundana
também constitui ilusão, pois não haveria propósito
em nascer e experimentar todas as fases da vida
sem intensidade, sublimando-se o espírito à medida
em que a matéria se entrega às oportunidades que se
apresentam para serem desvendadas.
Quantas vezes, percebes o quanto estai a sós,
e nem mesmo sabes para onde ir.
É preciso que estejas atento e presente de corpo e alma,
com a mente consciente do teu livre-arbítrio sem limites
esquivando-te dos laços que tentam impedir
o teu pleno desenvolvimento.
Não há caminho certo, nem lugar pré-determinado
onde devas chegar.
Liberta-te das atitudes limitadoras.
Todas as possibilidades te pertencem.
Laura Bernardes, 26/02/2011
“O que alarga a vida de uma pessoa
são os sonhos impossíveis.”
(Clarice Lispector)
“Seja a mudança que você deseja ver no mundo.”
(Gandhi)
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“E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.”
Extraído do livro de Rubem Braga “A Traição das Elegantes”, Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.
(Agradecimentos ao site que disponibilizou o texto: http://www.releituras.com/rubembraga_despedida.asp)
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“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.”
(Antonio Cícero – Guardar, extraído do site: http://www.tanto.com.br/antonio-cicero.htm)
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Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Niguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.
(…)
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
(…)
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.
(…)
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar…
…
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…
(Trechos de poesias de Fernando Pessoa, adaptado de http://www.astormentas.com/pessoa.htm)
Seja a mudança que você deseja ver no mundo (Gandhi)